sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Pôr do sol
A noite engole a tarde e suas cores se misturam. O cheiro da maresia, o barulho dos barcos manobrando no cais, fim de tudo. Tudo é guardado para descanso. Um último apito da balsa que faz a travessia do rio ligando uma ponta à outra é ouvido.
O vento corta coqueiros com cores turvas da noite. Luzes acesas, cansaço. No horizonte vêem-se agora pequenas lembranças do dia. O pescador com sua pele áspera do sol pega seu chapéu no chão, olha o infinito e agradece por mais um dia.
Deus está em tudo, nas pequenas e nas grandes coisas da vida. E Ele não poderia deixar de estar neste pôr do sol inesquecível em Arraial D’ajuda na Bahia.Foto: Acimar Antão
Dose dupla
O telefone da minha mesa tocou, era minha patroa, toda eufórica, dizendo que tinha acabado de comprar meu presente do dia dos namorados. Dei uma risadinha, mas gelei todo. Gelei mesmo, sabe por quê? Eu sou a pior pessoa na face da terra para dar presentes. Salvo, quando a pessoa a quem darei o agrado, me dê uma dica. Fora isso... Sou um desastre.
Mas, voltemos à vaca fria. Na verdade, a patroa é minha namorada, mas já manda como se fosse esposa. Sete anos e meio já são, na verdade, mais que um relacionamento, é como se fosse uma empresa aberta com sociedade concretizada e FGTS bem alto. Mas o caro leitor deve estar se perguntando: Por que tanto badauê por um mísero problema? Pois é. O que pega é que ela, minha Juliana, faz aniversário justamente no dia dos namorados. Muitos, agora, neste momento, devem estar rindo e dizendo em voz alta para quem está ao lado ouvir e não entender nada: mas é melhor ainda! Mas quem tem uma namorada como a minha; carinhosa, atenciosa e amorosa não pode dar simplesmente um mísero presentinho apenas e dizer que ele vale por dois: Dia dos Namorados e Aniversário. Nadica de nada disso!
Então, se um presente dá esse rebuliço todo, imagine dois? Duas datas comemorativas, dois presentes, dois problemas. Você se lembra de quantos anos de namoro? Quase oito. São quase oito anos quebrando a cabeça nessas datas (fora natal), mas resolvi pedir ajuda a um amigo. Aquele que eu considerava como irmão. Considerava, porque a solução dele assinaria minha carta de demissão. Ele teve a cara de pau de propor, que eu comprasse um par de brincos ou um par de botas, e dizer que, o da orelha ou pé esquerdo seria do dia dos namorados e da orelha ou pé direito, seria presente de aniversário. Seria meu assassinato sacramentado. Imagine a cena: Eu chegando, todo arrumadinho, com um par de brincos e dizer esse absurdo à Juliana?! Não quero nem imaginar o que vai acontecer. O jeito é sair rodando os shoppings da vida, e arrumar dois presentes que ela goste e que já não tenha em seu guarda roupa. Difícil missão (...) Acho que vou chamar meu amigo 007 Carlos Rodrigues para me ajudar.
Mas, no meio de tudo isso, a patroa me falou uma coisa que me confortou. Ela me disse que sempre no dia do aniversário dela eu também ganho presentes. Bem feito. Quem mandou nascer no Dia dos Namorados?
Belas tardes de domingo
Talvez os casos sejam os mesmos, mas o entusiasmo para cada vez que são contados é sempre maior. Relembrando velhos tempos e cavalgando no dorso da saudade, eles atravessam décadas passando por pessoas e lugares. Falando de chegadas e partidas. Relembrando, músicas, cantores e cantoras. Aquela era de ouro do rádio e das antigas namoradinhas, que, entre uma dança e outra, nos bailes, deixavam-nos sentir seus perfumes de Alfazema um pouco mais de perto.
Os assuntos, sempre prazerosos, deixam os fundos dos baús, para virem à tona. A vida dura no interior e a chegada à capital ainda rapaz. Os craques famosos do time do coração, aquele prefeito que virou presidente e muitas outras histórias.
Mas, a máquina do tempo os remete ao presente. E aquele passado saudoso, e salpicado de várias recordações é deixado naquele banco de praça e guardado para, quem sabe, na próxima semana ser revirado e relembrado novamente. Foto: Acimar Antão
Parada de ônibus
07h20min. Estou no ponto de ônibus. A mesma turma de sempre já está à espera do lotação. Mais alguns minutos e ele vem, chacoalhando, todo azul. Alguém dá sinal. Não sei por quê? O motorista sabe que naquele ponto vai ter que parar. O veículo encosta, a porta se abre. Os passageiros começam a subir, vou também. O ônibus está vazio, mas não tem lugares disponíveis para sentar. Vou para o fundo, porque sei que alguns quarteirões depois, duas moças darão sinal para descer. È assim. Você já sabe a rotina do “Cata-osso”, como dizia meu tio. Mais passageiros entram, tudo começa a ficar meio espremido. Já estão dentro do lotação as figuras conhecidas de sempre. A moça bem magra, de óculos escuros bem grandes, um senhor já cinquentão que sempre está de camiseta e bermuda (independente do frio que esteja fazendo), o rapaz falante do último banco, que sempre me dá bom dia, e a senhora com uniforme de uma concessionária de automóveis. Todos ali, para mais um dia. Fico observando os olhares, as reações às paisagens do lado de fora da janela. Cada um tem sua história, seus medos, alegrias e angústias. Mais uma parada. O trocador com um sinal, manda o motorista fechar a porta e seguir viagem. Alguém comenta uma coisa sobre o tempo e o outro concorda. Vamos vencendo ruas e avenidas. Já estou sentado, as duas moças já desceram. O ônibus pára no ponto, duas pessoas descem, mais um remanejamento no corredor. Um anda mais para trás, outro senta, um senhor oferece à moça que está de pé na sua frente para carregar sua sacola. São gentilezas que passageiros que estão sentados costumam fazer aqueles que estão de pé. Quero dizer quase todos os passageiros. Alguns, indiferentes, nem olham para o lado do corredor, com medo de terem que carregar algum tipo de embrulho. Eu gosto de ser gentil. Sempre que tenho oportunidade me ofereço para carregar alguma sacola ou bolsa. Engraçado que as pessoas às vezes não estão acostumadas com tais gentilezas. Quando pergunto se elas querem que eu carregue seus embrulhos, elas sorriem e dizem coisas do tipo “tá pesado hein! Tem problema não?” É muito estranho...
Outro dia uma moça concordou em deixar que eu segurasse duas sacolas. Fiquei meio sem graça porque o conteúdo estava meio molhado, acho que era a carne da janta. Mas carreguei assim mesmo. Não tem jeito de devolver para a pessoa. O ônibus parou em mais um ponto, desta vez é para subir um senhor de idade, de voz estridente, com alguns sacos de verduras que ele compra no mercado central para revendê-las. Mais uma vez entra a solidariedade humana. Alguns rapazes o ajudam a subir com a mercadoria. O “véio” como alguns o chamam sobe rindo, tirando sarro de alguns conhecidos. Olho aquela cena. Acho graça de alguma coisa que ele fala. Penso mais um pouco. A felicidade é um estado de espírito. Aquele senhor, todo maltrapilho, numa felicidade danada, com aquele monte de coisa para carregar... E tem gente com uma vida boa reclamando de tudo. Eles não sabem de nada mesmo. Sábias são essas pessoas.
É minha vez de descer. Dou sinal. É julho. Sinto o vento frio bater no meu rosto. O ônibus arranca. Vou trabalhar. Mais tarde estarei no mesmo lotação para voltar para casa e começar tudo de novo num novo dia.
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