sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Parada de ônibus
07h20min. Estou no ponto de ônibus. A mesma turma de sempre já está à espera do lotação. Mais alguns minutos e ele vem, chacoalhando, todo azul. Alguém dá sinal. Não sei por quê? O motorista sabe que naquele ponto vai ter que parar. O veículo encosta, a porta se abre. Os passageiros começam a subir, vou também. O ônibus está vazio, mas não tem lugares disponíveis para sentar. Vou para o fundo, porque sei que alguns quarteirões depois, duas moças darão sinal para descer. È assim. Você já sabe a rotina do “Cata-osso”, como dizia meu tio. Mais passageiros entram, tudo começa a ficar meio espremido. Já estão dentro do lotação as figuras conhecidas de sempre. A moça bem magra, de óculos escuros bem grandes, um senhor já cinquentão que sempre está de camiseta e bermuda (independente do frio que esteja fazendo), o rapaz falante do último banco, que sempre me dá bom dia, e a senhora com uniforme de uma concessionária de automóveis. Todos ali, para mais um dia. Fico observando os olhares, as reações às paisagens do lado de fora da janela. Cada um tem sua história, seus medos, alegrias e angústias. Mais uma parada. O trocador com um sinal, manda o motorista fechar a porta e seguir viagem. Alguém comenta uma coisa sobre o tempo e o outro concorda. Vamos vencendo ruas e avenidas. Já estou sentado, as duas moças já desceram. O ônibus pára no ponto, duas pessoas descem, mais um remanejamento no corredor. Um anda mais para trás, outro senta, um senhor oferece à moça que está de pé na sua frente para carregar sua sacola. São gentilezas que passageiros que estão sentados costumam fazer aqueles que estão de pé. Quero dizer quase todos os passageiros. Alguns, indiferentes, nem olham para o lado do corredor, com medo de terem que carregar algum tipo de embrulho. Eu gosto de ser gentil. Sempre que tenho oportunidade me ofereço para carregar alguma sacola ou bolsa. Engraçado que as pessoas às vezes não estão acostumadas com tais gentilezas. Quando pergunto se elas querem que eu carregue seus embrulhos, elas sorriem e dizem coisas do tipo “tá pesado hein! Tem problema não?” É muito estranho...
Outro dia uma moça concordou em deixar que eu segurasse duas sacolas. Fiquei meio sem graça porque o conteúdo estava meio molhado, acho que era a carne da janta. Mas carreguei assim mesmo. Não tem jeito de devolver para a pessoa. O ônibus parou em mais um ponto, desta vez é para subir um senhor de idade, de voz estridente, com alguns sacos de verduras que ele compra no mercado central para revendê-las. Mais uma vez entra a solidariedade humana. Alguns rapazes o ajudam a subir com a mercadoria. O “véio” como alguns o chamam sobe rindo, tirando sarro de alguns conhecidos. Olho aquela cena. Acho graça de alguma coisa que ele fala. Penso mais um pouco. A felicidade é um estado de espírito. Aquele senhor, todo maltrapilho, numa felicidade danada, com aquele monte de coisa para carregar... E tem gente com uma vida boa reclamando de tudo. Eles não sabem de nada mesmo. Sábias são essas pessoas.
É minha vez de descer. Dou sinal. É julho. Sinto o vento frio bater no meu rosto. O ônibus arranca. Vou trabalhar. Mais tarde estarei no mesmo lotação para voltar para casa e começar tudo de novo num novo dia.
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